Contra o machismo e a cultura do estupro

(Publicado originalmente na Tribuna de Minas, em 28/02/2016)

A Reitoria, por meio da Diretoria de Ações Afirmativas, está atenta e acompanhando os casos de violência, estupro, assédio sexual, agressão moral e psicológica, coerção, desqualificação intelectual, violência sexual e física contra a mulher no ambiente universitário. Uma das principais barreiras que a instituição encontra para apurar e acompanhar os casos é o medo, a vergonha e a exposição que as nossas mulheres sentem. A equipe de Atenção Psicossocial da Diretoria vem se estruturando e se capacitando na busca de parcerias com a Casa da Mulher e outras instituições universitárias para garantir um ambiente de escuta em que as alunas, professoras e técnicas possam falar sem medo. Além disso, vem ouvindo atenta as demandas dos coletivos e movimentos feministas frente às diferentes violências sofridas na universidade.

Diante dessa realidade, a universidade está organizando, para o mês de março, a Semana da Mulher, na qual ocorrerão debates, mesas-redondas, rodas de conversa, intervenções e grupos de trabalho para analisarem as dificuldades a partir de cada realidade, cada segmento e cada tipo de violência sofrida. Pretende-se discutir também formas de pensar estratégias metodológicas, socioeducativas, de sensibilização, bem como punitivas e restritivas no sentido de defender e garantir que a universidade seja um espaço de autonomia, liberdade e segurança para todas as mulheres.

É importante frisarmos que essa realidade se apresenta em diversas universidades do país e do exterior. Segundo dados de uma pesquisa feita na USP, 67% de estudantes do sexo feminino sofreram algum tipo de violência no ambiente acadêmico.

O trabalho de sistematização e pesquisa da Diretoria de Ações Afirmativas iniciou-se a partir dos diversos relatos e denúncias que a mesma veio recebendo nos últimos meses. Nenhuma denúncia que chegou à diretoria ficou sem resposta ou acompanhamento. O que acontece, muitas vezes, é que o medo de represálias ou de ter a sua vida acadêmica comprometida leva muitas alunas a silenciarem e não darem prosseguimento à abertura de processos administrativos.

A universidade vem desvelando e trazendo à tona essa realidade, buscando parcerias com a Diretoria de Segurança, bem como a formação de seus agentes para saberem lidar, apurar e atender às vítimas nos mais diversos casos de violência contra a mulher que presenciarem no ambiente universitário. Sem dúvida, o caminho é árduo e longo, e seus reflexos serão percebidos a médio e longo prazo. O que não podemos mais aceitar é que as universidades ocultem o que acontece em seus espaços com medo de ter a sua imagem abalada. Precisamos transformar esse imaginário e compreender que uma universidade realmente transformadora, ética, que tem em seus princípios a defesa dos direitos humanos, abre e expõe a situação para toda a sociedade, enfatizando a necessidade desse debate.

A Reitoria quer deixar claro a todas as estudantes, professoras e técnico-administrativas que tiveram coragem de não mais continuarem caladas que não estão sozinhas e que não nos calaremos! A universidade se posiciona contra toda forma de opressão e violência secularmente entranhada na nossa formação machista, patriarcal e escravocrata. Não permitiremos que as mulheres tenham as suas vozes silenciadas.

Fonte: https://tribunademinas.com.br/opiniao/tribuna-livre/28-02-2016/ufjf-contra-o-machismo-e-a-cultura-do-estupro.html

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