A interseccionalidade necessária entre gênero, raça e classe social

Debater e discutir sobre as tensões étnico-raciais do nosso país é fundamental, e ela não pode e não deve ser escamoteada nem pelo “Mito da Democracia Racial”, como se as tensões não existissem e os brancos e negros no nosso país vivessem em completa harmonia, nem pelos discursos que afirmam que trazê-las à tona, que ensinar sobre relações étnico-raciais na escola ou na academia, ensinar sobre história e cultura afro-brasileira, africana e indígena é propiciar o conflito, é “mexer com o que está quieto” é dar visibilidade a uma série de feridas, questões difíceis e complexas que seria muito melhor deixá-las invisibilizadas.
Por outro lado, não há outra forma de discuti-las se não houver a articulação das diferentes formas "de ser e estar no mundo", se não atentarmos à interseccionalidade necessária entre gênero, raça e classe social. Dessa forma, se você é homem negro e se solidariza em minha luta com relação às opressões que eu enquanto mulher negra sofro, relacionadas às relações de gênero, você é meu parceiro. E se você é mulher branca e compreende as questões que me tocam e me fazem sofrer relativas à minha negritude, você é minha parceira. E se você homem branco, compreende que é o topo da pirâmide e que necessitamos de parceria, apoio e outras visões de mundo e valores civilizatórios para que haja mais justiça racial e social nesse país, para que haja a efetivação dos direitos humanos, da ética e da igualdade, estamos juntos, você é meu parceiro. E nós mulheres negras, precisamos exercitar a sororidade, precisamos nos dar colo, apoio e carinho constantemente, sem julgamentos, cobranças e pressões entre nós, precisamos entender que cada uma, lida com o machismo, o racismo, o sexismo e a opressão de uma forma, e que o acolhimento, a escuta e o apoio é o que nunca pode faltar entre nós, para nos curarmos, para termos saúde, para sermos plenas. O que não podemos fazer é afastar de nós todos os parceiros que precisamos para nos dar as mãos, para construir conosco, ações efetivas e eficazes contra o racismo institucional, religioso, ambiental. Temos que saber identificar os nossos reais inimigos, senão acabamos caindo no erro de pegarmos as armas que queremos destruir, acabamos semelhantes aos nossos opressores.


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